sexta-feira, 24 de setembro de 2010

algo errado?

Como é que os jovens, principalmente talvez os que ainda não entraram no mercado de trabalho, encaram o futuro? Que perspectivas têm?

Ao perguntar a uma criança “o que quer ser quando for grande”, facilmente nos dirá que quer ser polícia, médico ou professor. Mas quando estão mais crescidinhos a coisa torna-se mais complicada. Ao tentar descobrir o que se quer fazer na vida, (ou pelo menos em parte dela) na maior parte das vezes se percebe que não é tudo cor-de-rosa como se pensava. Tomemos uma pessoa ao acaso para servir de exemplo. O curso mais desejado dessa pessoa não pode ser, porque não há capacidade financeira, e o ensino superior mesmo apesar de não ter uma qualidade que o justifique, não é gratuito.
O segundo curso mais desejado não existe/tem pouca qualidade em Portugal, ou não é cá reconhecido. O terceiro curso requer uma deslocação para uma outra cidade, o que implica custos adicionais de habitação, por exemplo, e se por acaso for nos Açores ou na Madeira, com as passagens de avião àquele preço, convém já dizer adeus às visitas a casa durante as férias de Natal e Páscoa.

Enfim, contentando-se com um curso não tão bom, não muito longe nem muito caro, numa universidade não tão reconhecida, o jovem faz a licenciatura e o mestrado, porque a primeira já pouco vale. Terminado o curso, se tiver a sorte de escapar a juntar-se aos 100 000 jovens desempregados em Portugal (cerca de 23% dos jovens entre os 15 e os 24 anos), o trabalho precário ainda é uma possibilidade. E este trabalho precário tanto pode ser na área onde se tirou o curso ou não (devido à falta de emprego novamente) sendo o salário mínimo algo provável no caso da segunda.

A esta altura do campeonato, já o jovem vai com sorte se não tiver que pagar algum empréstimo que pediu ao banco para poder tirar o curso, e consequentemente depender ainda da ajuda que os pais possam dar. Mas mesmo tendo arranjado emprego e conseguido viver menos apertadamente, nada está seguro com o despedimento sem justa causa aí à porta.
Poder-se-á dizer que um jovem dramatiza demais as situações, e que é próprio da idade, mas não será tudo isto indicador de que há algo errado?

Luís Abrantes

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